E se eu não for trabalhar hoje? E se for, mas não fizer nada? E se fizer, mas mal-feito? Adianta? Quando chego bem cedo e percebo que o dia não vai ser bom, a semana não vai ser boa, a vida não vai ser boa, vou para um canto escuro de uma sala escura deste imenso prédio escuro e choro. Depois, seco os olhos, mas ficam resquícios. O que houve com seus olhos, dona? Estão vermelhos. Conjuntivite, doutor. Ei, isso pega! Pega, mas já está no fim. Amanhã, terei os olhos limpos e claros como água de rio. Talvez, a alma também, mas esta é mais difícil, porque não usa colírio.
E se eu resolvesse não viver hoje? Ficar acocorada em algum lugar, com a cabeça entre as pernas, bem quieta. Ei, dona, o que há? Nada, não responderia nada. Será que me deixariam? Ou chamariam um psiquiatra? Se eu ficasse calada, total silêncio, sem movimentos, sem levantar a cabeça; se eu me recusasse a responder. Eles se esqueceriam de mim, quem sabe? Então, eu saberia se a paz se encontra assim, de cócoras. Sou uma mulher grande. Não será fácil. Tenho medo de que resolvam levar-me. Para casa, para o hospital, para o hospício. Teriam de chamar dois homens, no mínimo. Sou pesada. Seria vexatório? Cômico? Deprimente? Acho que não tenho coragem de fazer isso. Deve ser o que nos diferencia dos loucos: a coragem.
Às vezes, passo horas tentando decifrar coisas sem a mínima importância prática. Certa função sintática de uma palavra em uma oração grande de um período ainda maior. Não sei para quê. Mas é divertido, ocupa a cabeça, pelo menos durante um certo tempo. Depois... bem, depois é outra história. Pode-se começar tudo de novo. Outra coisa interessante é ficar fuçando e descobrir a origem de um termo, suas transformações até a palavra atual. É bom. Ri-se bastante e se adia o acocoramento.
Não se deve ler muito, porém. Leitura faz mal à vista. Quando era pequena, gostava de ler à hora do almoço. Isso acaba com seus olhos, menina! Largue já esse livro, venha comer. Ah, mãe! Ei, menina, não leia com pouca luz, deixe esse livro aí. Ah, mãe! Sempre soube que leitura enfraquece os olhos, mas o que acabou me obrigando a usar óculos foi o computador. Talvez eu tenha lido pouco, mesmo. Escrever faz menos mal. Pelo menos, ninguém nunca me repreendeu por estar escrevendo. Talvez porque eu não escreva na frente dos outros. Tenho vergonha. Quero dizer, quando trabalhava no jornal, tinha de escrever na sala de redação, junto a todos os jornalistas. Mas nenhum se preocupa com o que o outro escreve e, além do mais, eram matérias para um periódico. Lê-se num dia e no outro já nem se lembra mais. Quando se escreve algo ruim, não há com o que se preocupar. Ninguém vai lembrar. Só quem escreveu.
E se eu resolvesse não viver hoje? Ficar acocorada em algum lugar, com a cabeça entre as pernas, bem quieta. Ei, dona, o que há? Nada, não responderia nada. Será que me deixariam? Ou chamariam um psiquiatra? Se eu ficasse calada, total silêncio, sem movimentos, sem levantar a cabeça; se eu me recusasse a responder. Eles se esqueceriam de mim, quem sabe? Então, eu saberia se a paz se encontra assim, de cócoras. Sou uma mulher grande. Não será fácil. Tenho medo de que resolvam levar-me. Para casa, para o hospital, para o hospício. Teriam de chamar dois homens, no mínimo. Sou pesada. Seria vexatório? Cômico? Deprimente? Acho que não tenho coragem de fazer isso. Deve ser o que nos diferencia dos loucos: a coragem.
Às vezes, passo horas tentando decifrar coisas sem a mínima importância prática. Certa função sintática de uma palavra em uma oração grande de um período ainda maior. Não sei para quê. Mas é divertido, ocupa a cabeça, pelo menos durante um certo tempo. Depois... bem, depois é outra história. Pode-se começar tudo de novo. Outra coisa interessante é ficar fuçando e descobrir a origem de um termo, suas transformações até a palavra atual. É bom. Ri-se bastante e se adia o acocoramento.
Não se deve ler muito, porém. Leitura faz mal à vista. Quando era pequena, gostava de ler à hora do almoço. Isso acaba com seus olhos, menina! Largue já esse livro, venha comer. Ah, mãe! Ei, menina, não leia com pouca luz, deixe esse livro aí. Ah, mãe! Sempre soube que leitura enfraquece os olhos, mas o que acabou me obrigando a usar óculos foi o computador. Talvez eu tenha lido pouco, mesmo. Escrever faz menos mal. Pelo menos, ninguém nunca me repreendeu por estar escrevendo. Talvez porque eu não escreva na frente dos outros. Tenho vergonha. Quero dizer, quando trabalhava no jornal, tinha de escrever na sala de redação, junto a todos os jornalistas. Mas nenhum se preocupa com o que o outro escreve e, além do mais, eram matérias para um periódico. Lê-se num dia e no outro já nem se lembra mais. Quando se escreve algo ruim, não há com o que se preocupar. Ninguém vai lembrar. Só quem escreveu.
De toda forma, trabalhar, ler, ouvir música e outras coisas são ótimas para evitar que se pense em ficar de cócoras para o resto da vida. Um bom exercício para não pensar. Principalmente o trabalho. Além de dignificante, é alienante, o que é muito bom, pois impede maus pensamentos. Há um ditado popular: "cabeça vazia, oficina do diabo". Por isso, sempre é bom ter muitas tarefas. Mas e se eu não as fizesse hoje?
Um comentário:
esse eu já comentei acho, me sinto estranha quando o leio, é como se fora eu aí me transparecendo no seu teclado.
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