quinta-feira, 9 de outubro de 2008

PROMOÇÃO DE VERÃO!



Venha para a Pousada Ana Cródia* e ganhe um delicioso almoço!

Peixe à Cródia:

Temperadas com limão, sal e alho, deitadas a marinar e regadas com azeite, são as postas de peixe levadas ao forno. Enquanto assam, cozinha-se alcaparra, cenoura e chuchu, somente com sal. Os legumes, cortados em filetes e refogados em manteiga, são jogados sobre o peixe assado. Acompanha arroz branco.

Experimente essa delícia!

Incluídos no pacote: traslado, espetinho de camarão na sacada e a agradabilíssima companhia da dona da pousada.

*Em breve, fotos da pousada e de sua bela proprietária.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O tesouro

Certa manhã, acordou esquisita. Isso deve ser da idade, pensou, já não sou menina. A sensação perdurou durante todo o restante do dia, no trabalho, no ônibus, na rua. Em casa, ao jantar, com um prato de sopa diante de si, tomou a decisão. Começaria a economizar, guardar bens, valores, qualquer coisa.

No dia seguinte, saiu de casa mais cedo e passou por um pequeno comércio de quinquilharias. À noite, abriu a sacola que trouxera da lojinha e dali retirou uma caixa de madeira, de trinta centímetros quadrados. Recortou pedaços de feltro, que colou nas paredes internas, e finalizou o trabalho fechando a peça com uma chavezinha de metal. Se não de ouro, ao menos dourada, contentou-se.

Desde essa noite, não pensava em nada que não fosse conseguir objetos para guardar na caixa. Obviamente, não dinheiro, mais bem-guardado no banco. Queria coisas reluzentes, algo que as reviravoltas da economia não ameaçassem de desvalorização.

Tudo o que lhe parecesse de valor ia para dentro do abrigo. Quando meus herdeiros puserem os olhos sobre este tesouro, saberão que lhes doei coisas que me são caras, pensava. Uma pessoa não pode passar a vida em vão, sem deixar nada a ninguém, sem um legado, a não ser o da miséria da espécie, que a esse todos têm acesso.

Chegava a se sentir feliz imaginando o dia de sua morte, com a família a usufruir as riquezas. E o tal não demorou. Um acidente com o ônibus em que ia ao trabalho foi suficiente para lhe pôr fim à existência e à de uns quantos usuários do transporte.

Depois do enterro, já em casa, os irmãos arrumavam as poucas e puídas peças de roupa, guardavam sapatos, produtos de maquilagem, quando um deles encontrou no guarda-roupa a caixa do tesouro. Na parte de cima, à caneta: “Aos meus”. Chamou os outros, juntaram-se para ver a novidade.

Aberta a caixa, que desprendia um cheiro de tabaco envelhecido, os irmãos encontraram, entre vários cigarros soltos pela peça, já com o papel amarelecido e o filtro murcho, pedras coloridas, pedaços de vidro e acrílico, rolhas de cortiça e um papelinho com as bordas carcomidas onde se lia: “...eu ainda a sofrer dos efeitos da queda de um cavalo que nunca montei”*.
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*José Saramago, in As Pequenas Memórias

sábado, 5 de abril de 2008

Da série "Indagações"

Tenho dois relógios.
Um me aperta o pulso.
O outro fica frouxo.
Sou eu que não caibo no mundo ou é o mundo que não cabe em mim?

terça-feira, 4 de março de 2008

Sequei

Na umidade de Natal, seco.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Quando se encontra o amor

Nada mais me importa.
Ergue-te, traz-me vinho.
Brindemos.
Hoje, meu grande amor entrou na minha vida definitivamente.
Tudo o que eu queria, aquilo de que necessitava, meus anseios e sonhos realizados.
Não poderia estar mais feliz, leve estou, de tanta felicidade.
Não pensava que a pudesse alcançar nessa plenitude.
Meu amor, meu amor, ela é linda!
Não sei como pude viver sem ela todo esse tempo, mas sei que foi um período perdido, estéril.
Agora, sei que precisava dela para viver.
Ela preenche minha vida, não sei o que faria sem sua presença.
E, agora, definitamente, em minha casa, de onde nunca mais sairá.
Sei que os amores acabam, mas quero que o nosso seja eterno, lutarei por isso.
Neste momento, enquanto escrevo estas linhas, ouço seu leve arfar na sacada do apartamento e me tranqüilizo, pois sei que ela está aqui, comigo.
Nunca pensei que esse amor, tido como diferente, "amor que não ousa dizer seu nome", pudesse me fazer tão plena, realizada.
Minha branquinha, chegou hoje, vai ficar para sempre em minha vida.
Digo-lhe com todo meu coração: amo você, minha máquina de lavar roupas!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Diário de Natal II

Sábado, 2 de fevereiro de 2008
Não fui à Redinha na sexta, uma pena. Hoje, Moraes Moreira em Ponta Negra, lá fui eu. Não muita gente, a maioria de fora. O povo da cidade migra para as praias próximas ou para o interior. Dizem que, por lá, o carnaval ferve. Conheci Marcelo. O espetáculo estava bom, nada pululante como nos de bandas de "axé" (seja lá o que isso for), tudo mais tranqüilo, musiquinhas. Algumas do meu tempo, outras desconhecidas, não acompanho a carreira do compositor. Divertido. Ao fim, o local quase vazio, alguns paulistas, com instrumentos musicais, danaram a cantar MPB. Cantei, também, sou cantora, vocês sabem. Só me falta aprender a cantar. Marcelo me levou para casa. Sem mais novidades.

Domingo, 3 de fevereiro de 2008
Marcelo apareceu em casa. Levou ingredientes, fez comida, lavou louça. Passou o dia todo por lá. Não pude fazer mais nada que não fosse companhia a ele.

Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
Marcelo não sai da minha casa. Não vi mais nada do carnaval.

Terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Último dia de carnaval. Sei que prometi um diário, mas houve imprevistos. O primeiro e maior deles, Marcelo. Mas na terça resolvi ver o carnaval, ou seja, o que ainda restava da festa. Combinei, então, com Carlos, um de meus inúmeros pretendentes, de ir à Ponta Negra. Minha intenção era curtir a praia e, à noite, ver algumas bandas que se apresentariam por lá, em algum lugar chamado Praça de Ponta Negra.

Inventei uma desculpa para Marcelo e fugi, na hora do almoço, para me encontrar com Carlos. Cinqüentão, nome de papai. Édipão, hein?. Vamos lá, vai ser divertido. Encontrei-me com ele já na avenida principal, Roberto Freire. Descemos à praia e ficamos na areia, pegando um bronze. Carlos é o que se pode chamar de um porre, no mau sentido. Bebe uma cervejinha, mas não fala nada, não gosta de nada, implica com tudo, um velho ranzinza, como eu, mentalmente, passei a chamá-lo. Poucos anos a mais do que eu, mas não consegui evitar a denominação.

Pensei com os botões do meu biquíni que iria almoçar e dar um jeito de me escafeder dali para curtir o carnaval. Pois estava eu, nessa linda tarde ensolarada, pensando na melhor maneira de escapulir ao chato, quando, adentrando o mar, uma onda maldosa me derrubou sobre umas pedras. Não há pedras em Ponta Negra, nunca vi pedras em Ponta Negra. Não sei de onde apareceram aquelas.

Minhas coxinhas (adoro eufemismo) ficaram raladas e (céus me ajudem!) sangraram. Tentei evitar um daqueles escândalos que faço quando vejo esse líquido viscoso e encarnado que temos a correr pelo corpo. Não desmaiei, pelo menos. Mas fiquei traumatizada. E ainda tive de ouvir de Carlos algumas pérolas como "uma mulher tão grande..." Tenho culpa se ele é baixinho? Mulheres grandes não podem desmaiar? Resolvemos sair da praia e almoçar.

O almoço foi um saco: coxinhas doloridas e o ranzinza reclamando de tudo. A comida, pelo menos, estava boa. Ao fim, desanimada, com perninhas doendo, resolvi ir-me embora. E não é que Carlos, quase buscando um banquinho no qual subir, tentou me beijar? Ora, faça-me o favor. Voltei para casa mais cedo do que previra e sem carnaval. Quando lá cheguei, Marcelo ligou. Não quis ficar para o show em Ponta Negra? Contei-lhe o ocorrido, omitindo a participação do chato. Posso ir até aí? Pode, Marcelo

Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Cinzas. Perdido o carnaval, eu já conformada, preparando-me para ir à repartição, que funcionaria à tarde. Logo cedo, aparece Marcelo, perguntando se queria ir à Redinha ver as últimas manifestações carnavalescas. Expulsei-o. À tarde, trabalhei.
E a vida voltou ao normal.

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Para o dicionário. Cafife é um bichinho, muito miúdo, que sobe pelo corpo das pessoas aos magotes (não sei o coletivo desse bicho), causando coceira, aflição e angústia no(a) pobre atacado(a) pela sanha invasiva dos animaizinhos. Daí, encafifado. Não fiquei muito convencida, porque, na minha terra, encafifado é intrigado, pensativo, preocupado. Não imaginei nenhum "encafifado" aflito, coçando-se todo. Mas o Luft dá encafifar como vexar(se), constranger(se), aborrecer(se). Então, ficar se coçando é uma coisa que avexa o cabra.



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Diário de Natal

Inauguro, hoje, meu Diário de Natal. Os ardorosos, libidinosos e ansiosos leitores de Ana Silva, brindo com essas pérolas de textos, extraídos dos momentos mais intensos vividos por mim nesta terra maravilhosa, cidade iluminada (ô, põe iluminada nisso, já tô preta, de tanto sol, como nunca estive em toda minha vida!). Do carnaval, tão efervescente quanto o de Campo Grande, às minhas aventuras e desventuras amorosas, saberão tudo o que se passa nestas plagas, tão próximas do Equador (tanto que queima...). E que meus remorsos sejam leves, agora, quando aprendi que galinhar é a melhor maneira de ser romântica.

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Quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ontem, fui ao "Baile de Máscaras do Atheneu", um evento na rua, lançamento do carnaval da cidade, no Largo do Atheneu, em Petrópolis, bem pertinho da minha casa. Dancei um pouquinho, discretamente, por óbvio, já que mulher séria sou.

Hoje, talvez vá à Redinha (não se esqueçam, Ridinha, com "d" palatal), onde haverá, no Palco do Cruzeiro, apresentação de Donizete Lima. Não conheço nem local nem cantor. Mas a praia, sim.

Amanhã, Moraes Moreira em Ponta Negra. O ônibus que vai a esse destino pára na frente da minha casa. Não é força de expressão, o ponto fica mesmo diante do meu apartamento. Acho que vou lá ver o tal, lembrar-me das musiquinhas da década de 80 e ver quais mais ele inventou.


O trajeto do coletivo é pela Via Costeira, que, como o nome indica, segue a orla; o visual é lindo, e a viagem, bem gostosinha, apesar de curta, uns 15 ou 20 minutos. Acho que vou cedo para lá, assim, aproveito a praia durante o dia e já fico para a festa no fim da tarde. Isso se não encher a cara (nem sei por que pensei em tal hipótese).

Ainda não me programei para domingo, segunda e terça. Vamos ver o que acontece. Também vai depender dos convites que receberei para as festas, já que conquistei uma quantidade considerável de pretendentes potiguares. Como não me canso de repetir: sou uma mulher linda. E mentirosa.

É isso, acho. Na quarta-feira, que sói ser de cinzas, contarei venturas e desventuras do carnaval de Natal. Ou serão de Natal no carnaval? Como é isso? Não entendi. Que data é, afinal? Carnaval ou Natal? Tenho direito a piadinhas infames, não?

P.s.: Ah, para o dicionário da nova terra. Hoje, no salão da manicura, falando de dinheiros, ouvi dizer que as pessoas põem as moedas no mieiro. Depois de algumas perguntas, descobri que se trata de um cofrinho, desses, que normalmente se tem em casa. Percebi que a palavra original é mealheiro, de amealhar. Certo? É o mesmo processo de "ingiar", por exemplo, palavra que me surpreendeu sobremaneira quando soube que seu significado era o mesmo de engelhar.

P.s2: Sei que ninguém me pediu o diário do carnaval, mas mando assim mesmo. Agüentem-me

domingo, 27 de janeiro de 2008

Beco da Lama

Estou no Beco da Lama, em Natal. Venho sempre aqui, encontro os amigos, bebo, converso, fico alegre. Bares, barracas, churrasquinho, cerveja, cachaça, papo animado. Música. Gente boa.

Aos poucos, fica-se mais feliz, fala-se mais, a conversa quase aos gritos, rio-me. A noite está boa, promete. Tenho 45 anos, uso um macaquinho de brim, camiseta, sandália rasteira, o cabelo solto, apesar do vento. Gosto de soltá-los, são crespos e longos, chegam até o meio das costas. Estou bonita.

Os homens começam uma conversa engraçada sobre a mulher que foi assassinada na Redinha. Traía o marido. Ele a esfaqueou, foi notícia nos jornais. Eles se riem, dizem que o corno não era manso. Rio-me também.

Estamos bem no meio do beco, na calçada do bar mais freqüentado. Na outra esquina, vejo o menino. Ele se aproxima. Parece uma criança, mas já tem quase 30 anos. Negro, o cabelo quase raspado, magro, bermudas e chinelo. Ele vem para a mesa, já sei. Conhece todo mundo. Não me importo. Estamos em festa. Estou no bar.

Na mesa, todos alegres. O menino também. Está tudo bem, é uma noite gostosa. Ele já chegou bêbado. Eu não estou menos, aqui há tanto tempo. Ele me afronta. Não sei para que, não me incomodo.

O menino insiste na provocação. Ele me irrita. E me ofende. Vou para cima dele, não levo desaforo. Quem tu tá achando que é, infeliz? Pensa que tá falando com quem? Ele responde com risadas, parece aéreo. Ri-se. E me chama de noiada.

Furiosa, afronto-o, quem tu tá chamando de noiada, seu. bosta? Ele continua achando graça, isso me enfurece mais. Saio de onde estou, rodeio a mesa e chego até ele. Que é que tu tá falando? Meto-lhe a mão na cara, ele se esquiva, rindo-se. Os outros da mesa se levantam, tentam me acalmar, põem-se entre mim e o menino. Não quero saber, desvio-me deles, quero alcançá-lo.

Avanço sobre ele. Sem parar de rir, levanta-se, foge, mas não deixa o bar, rodeia a mesa, eu o sigo. Um neguinho desses me chamar de noiada? “Ué, se fosse branquinho, podia?” A frase vem de uma mulher gorda, com cara de turista, na mesa ao lado. Olho-a, por alguns segundos, fixa e duramente. Fuzilo-a. Ela se retrai, desvia o olhar, abaixa a cabeça. Volto-me ao menino.

Vem cá, merda. Quero ver, agora. Corro atrás dele, os homens tentam me segurar. Ele entra no bar. Vou atrás. Na porta, há engradados cheios de garrafas vazias. Pego uma. Quero quebrá-la em sua cabeça. Mil braços envolvem meu corpo. Seguram-me de todas as maneiras, querem impedir-me. Deixa eu acabar com esse neguinho, quem é noiada, safado?

Com a garrafa na mão, o braço no ar, seguro por outras mãos, o menino lá dentro, sou puxada, empurrada, uma nuvem de gente em torno de mim, não o alcanço. Levam-me pra fora, aos gritos. Tiram-no do bar, pedem-lhe que se vá. Ele não atende, continua pela calçada, rodeia as mesas, ri-se.

Eu grito, ainda me seguram. Tu te lembra quando chegou aqui? Um neguinho, com fome, sem cueca, a bunda suja de bosta. Com os movimentos que faço para me livrar dos braços que me prendem, meus cabelos, revoltos, entram pelo meu rosto, pela minha boca.

Tiram a garrafa de minhas mãos, estou cansada, mas ainda quero alcançá-lo. Não me soltam. Grito. Tu é um fudido, dormia na rua, o cara comia teu cu, aqui na calçada. Eu que te levei pra casa, te dei banho, te dei comida. Tu vem me chamar de noiada? Vem cá pra ver se tu é homem.

Alguns homens vão até ele. Pegam-no pelo braço, levam-no, dobram a esquina do beco, desaparecem. Soltam-me, ajeito os cabelos, volto à mesa. A garçonete traz mais uma cerveja. Sento-me, olho em volta. Ninguém se abala, tudo como dantes. Em suas mesas, freqüentadores bebem, conversam, a música toca. Rio-me. A turista foi embora.
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Tentativa de narrar fato no passado com verbo no presente. A formalidade da narrativa, langue, é interrompida apenas pelas intervenções diretas da narradora, parole.
Dizem que, quando o diretor explica a peça ao público, um dos dois é burro. Serei eu, mestre?
Ah, à Hitchkock, faço uma ponta.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

De novo

Acabou, está acabando.
Família, amigos, Campão. A cidade está linda, talvez não saia nunca mais daqui. Morrerei velhinha, andando pelas calçadas sujas do centro e reclamando do trânsito. Mas as calçadas são limpas, e o trânsito, muito melhor que o de vários lugares por onde andei. Dirijo pelas ruas e vejo que são pequenas, pequena é a cidade, pequenina Campo Grande. Era enorme, antes.
As cidades são como os sonhos, e sonhos, sonhos são. Por mais intrincados que sejam seus caminhos, quem sonha sabe aonde vão dar. Mas isso é plágio de Calvino, misturado com letra de Chico. Música de Tom é casa de Oscar; poema de Chico é casa minha.
Amanhã, os amigos fazem festa. Despedida pra mim. De novo. Despedida de Brasília, despedida de Campo Grande. Outra festa pra eu rir, outra festa pra eu chorar, outra festa pra eu me embriagar. Embebedar-me de amigos, para vê-los partindo, um a um, da casa, do bar, sem saber quando e se vou encontrá-los de novo. Sentir os mesmos cheiros, ouvir as mesmas vozes, rir das mesmas piadas batidas, discutir as mesmas divergências insolúveis, fazer as mesmas chacotas, chamar pelos apelidos, abraçar emocionadamente, fingindo que não é nada, não é nada, não é nada, não sou piegas, não vou chorar. E para que me vejam partir. Hora de ir embora, quando o corpo quer ficar. Chico de novo, nada original. Eu, não ele.
E lá, do outro lado do mundo, do lado de lá da montanha, que a gente não conhece, por isso deseja, a cidade nova que me espera. Eu a espero. Um amor novo, que não deu certo. Amores dão certo? Um outro e novo amor, que desejo dê certo. Amores dão certo? Ele escreveu, ele escreveu. Escreverá amanhã? Ele telefonou, telefonará depois? Não sei, é outro, é novo, muito novo, talvez dê certo. Amores dão certo? Será diferente do anterior, tão recente, tão infeliz? Será. Amores dão certo.
Tenho de escrever. O conto do aeroporto. A crônica do beco de Natal. Um artigo científico. A edição de um livro cujo prazo expira breve. Um medo, de novo, medo velho, de modo novo. Já não sei o que penso, não sei o que escrevo, não sou de escrever assim. Amanhã, apago esta porcaria.