quinta-feira, 19 de março de 2009

Por uns cobres a mais

Fumava feito uma chaminé, e os familiares perturbavam-na por conta do hábito. Diziam-lhe que ainda iria morrer por causa do cigarro; era escrava do vício. Não ligava a mínima.

Tinha cinzeiros espalhados pela casa toda. Desses de vidro, que se compram em lojas de quinquilharias. Aos poucos, foram-se todos, quebrados ora numa limpeza, ora num esbarrão, ora por uma visita distraída.

Certo dia, viu-se sem cinzeiros e fez a coisa mais detestável que fazem os fumantes: bateu as cinzas num copinho com água. Enojada, resolveu reabastecer a casa – em cada cômodo, um cinzeiro, pronto.

Foi diretamente a uma loja onde sempre comprava os tais cinzeirinhos vítreos. Não havia, acabaram-se. Toca pra outra. Não temos, disse a vendedora. Está em falta, na terceira. Estranho. Não há cinzeiros nesta cidade?

Decidiu levar uns de cobre; vêm três num saquinho, ainda mais baratos do que os de vidro. Encheu a casa com eles. Sentava-se na sacada do apartamento, diante do mar, e fumava tranquilamente seu cigarrinho.

Alguns dias depois, percebeu que os cinzeiros novos estavam se enegrecendo. Maldita maresia, esqueci-me disso. Foi então que teve a ideia de passar esmalte de unhas nos objetos. Isso vai criar uma película protetora, imaginou. E assim o fez. Logo, todos os recipientes estavam envernizados, secando ao sol. À noite, já estarão bons, calculou.

Fim de jornada, antes de dormir, fumou seu indefectível último cigarro do dia. Apagou-o num dos cinzeirinhos recém-envernizados, mas não de todo. Restou uma brasinha, não percebida, que ficou ali, fumegando, misturando-se ao esmalte e ao zinabre anterior.

Dessa mistura, expeliu-se um gás asfixiante que tomou conta de todo o quarto. Morreu dormindo, sufocada pela fumaça desprendida do cinzeiro. No velório, a irmã lamentava: Não disse que o cigarro ainda a mataria?

terça-feira, 10 de março de 2009

Andei sumida

Primeiro, em João Pessoa;

A seguir, no carnaval em Olinda;

Na barraca do partido;

Com camaradas e amigos;

No meio da banda.

Depois, uma esticada a Porto de Galinhas;

E de volta ao RN: Pirangi.

Ô, vida ruim!


Mas as férias se acabam. E retorno à boa e velha casinha.