quarta-feira, 16 de maio de 2007

Caipira

A água jorrando da torneira batia nas costas das mãos, brincando entre os dedos. Com um movimento brusco, ela conseguiu que as gotas caíssem com mais força, fazendo furinhos na espuma dentro do tanque. Parada, olhando os movimentos da água sobre a espuma, lembrou-se do mar. Como era bom o mar. Há quanto tempo ela não via aquela imensidão de água.

Da única vez que fora ao litoral, aos quinze anos, guardava boas lembranças. No início, a timidez. Vergonha de se despir, branquela e gordinha, diante daqueles corpos bronzeados. A tia insistindo para que entrasse logo na água.

Aos poucos, tomando coragem, esquecida do maiô fora de moda, foi colocando os pés na água, entrando de mansinho. Um misto de receio e alegria; as ondas batendo nas coxas. Por um instante imaginou que a massagem da água poderia lhe modelar as pernas e deixá-las como as das modelos de revistas.

Logo, coberta pela água até os ombros, não pensava em mais nada. O mar todo a envolvia e era como se ela toda o envolvesse. Uma união nunca sentida antes. Despertou do transe com os gritos da tia, pedindo para que não fosse muito longe. Voltou devagarinho, sentindo aos poucos cada parte do corpo que se expunha ao ar.

Já não via os corpos perfeitos, os biquínis modernos. Só aquela sensação de perda, aos pedaços, como se sua pele houvesse ficado lá, dentro do mar. Colocou a saída de paia e sorriu para a tia.

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