(curta)
Estávamos parados no ponto de ônibus. Sem assunto, calados, os dois absortos, talvez pensando no filme que acabáramos de ver. Olhávamos a avenida, quase vazia, naquele fim de tarde de domingo. Ao longe, do outro lado da via, uma enorme motocicleta, triciclo, reluzente, passeava devagar. O piloto, um homem grande, gordo, quase deitado sobre o banco, com uma longa barba grisalha. Um quepe preto cobria-lhe a cabeça; colete e calças de couro completavam a indumentária, roupa e veículo cobertos de penduricalhos e adereços que brilhavam mesmo sob o sol fraco. Oscar respirou fundo e, sem voltar a cabeça para mim, olhos fitando o horizonte, começou a falar num tom baixo e monocórdio.
– Ana, você gosta de mim?
– Gosto.
– Você gosta muito? Me ama, mesmo?
– Sim. Eu gosto muito de você.
– Então, me prometa. Se um dia você me vir vestido desse jeito, você me mata?
– Mato.
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